quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Game para treinar Interpretação de Texto


Game Enem Wars

Instituto Canal do Livro lança game para treinar interpretação de texto



O Instituto Canal do Livro, associação sem fins lucrativos que promove o letramento digital por meio da literatura na internet, acaba de lançar o “Enem Wars”, um game destinado a treinar, de maneira lúdica, a capacidade dos estudantes de interpretar textos. “Dessa forma, estimulamos a capacidade de compreensão de textos dos jovens de uma maneira lúdica e amparada por clássicos da literatura”, explica Luiz Chinan, presidente do Instituto Canal do Livro.

Fonte: Canal do Livro http://www.canaldolivro.org.br/enemwars/

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Avaliação 3 de Literatura Brasileira

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ARCADISMO

CONTEXTO HISTÓRICO


A Europa do século XVIII se caracterizou por profundas mudanças. Temos:
1- A lei da gravidade descoberta por Newton (1642-1727).
2- Abordagem das leis das sensações pela Psicologia.
3- Classificação dos seres vivos pela Biologia.
4- A grande quantidade de produtos  gera novas formas de comércio fortalecendo a burguesia.
5- A declaração dos direitos humanos em 1789, na França.
6- A Revolução Francesa é o ponto culminante de um processo que representa, no terreno político, a primeira grande vitória da burguesia.
7-O cultivo filosófico da razão gráfica (Emanuel Kant).
8- A concepção de que o mundo é homogênio e não heterogêneo.
 Como conseqüência temos:
a- Uma visão do mundo totalmente científico, o homem da época acredita na ciência como meio de explicar o mundo e como meio de modificar a sociedade.
b- A Razão passa a ser a base de todo saber humano, sendo assim, a religiosidade do Barroco é desprezada.                                              


Todas essas mudanças caracterizam um movimento cultural que marca a fisionomia da Europa do século XVIII : o Iluminismo. ILUMINISMO (de iluminação = esclarecimento) designa um "esforço de renovação cultural de natureza sobretudo política, que tinha em vista a atualização de conceitos, de normas e técnicas, uma maior eficiência na ordem social e se subordinava à concepção nova de progresso humano".

MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS NA LITERATURA

O estilo que predomina na literatura da época é denominado Arcadismo ou Neoclassicismo.
Arcadismo: esse nome é derivado de Arcádia, uma região mitológica da Grécia que simbolizava o ideal de vida, onde os pastores chefiados pelo deus Pan se dedicavam ao pastoreio e à poesia.
Neoclassicismo: o movimento pregava a imitação dos clássicos gregos e romanos ou ainda procuravam imitar os escritores da Renascença.

CARACTERÍSTICAS
a) Volta à simplicidade dos modelos greco-romanos, ao mundo de Camões.
b) Predomínio da razão e da ciência, esquecendo a fé e a religião.
c) Retorno ao equilíbrio, reagindo contra o desequilíbrio do Barroco.
d) Busca da perfeição da forma.
e) Procura de um estilo simples, natural, despojados das metáforas e hipérboles.  
f) Identificação da Arte com a Natureza, resultando uma poesia bucólica, ingênua.
g) Simplificação do estilo, sem perder a nobreza de linguagem.
h) Tendência introspectiva (pré-Romantismo).        
i ) Linguagem graciosa e melodiosa, com culto excessivo à Natureza (Rococó).
j ) Uso de pseudônimos pelos poetas


Em 1768 foi publicado no Brasil as Obras Poéticas de Cláudio Manuel da Costa, dando início ao Arcadismo. O século XVIII no Brasil é considerado o Século do Ouro devido as extrações deste metal e de diamantes. O eixo econômico do país desloca-se:

ARCADISMO NO BRASIL

(1768-1836)

 

 

 

1º- para Minas Gerais, centro de extração do minério
2º- para o Rio de Janeiro, considerado ponto de escoamento e nova capital do país em 1763.

Portugal encontrava-se em déficit comercial por isso explorava o máximo a colônia brasileira. Os impostos sobre os minérios aumentavam cada vez mais, dando origem a uma insatisfação geral. Junto com este fato temos as influências das idéias libertárias européias trazidas pelos estudantes brasileiros recém-chegados da Europa. Esse descontentamento geral vai aumentando até culminar na Inconfidência Mineira, preparada por  um pequeno grupo de letrados, muitos deles ex-estudantes da Universidade de Coimbra.

Esse grupo de oposição política participava da produção científica, histórica e literária da época. Pela primeira vez na sociedade brasileira pôde-se falar numa relação organizada e sistemática, ainda que incipiente, entre escritor e público.

A literatura produzida então revela CARACTERÍSTICAS neoclássicas do Arcadismo Português, embora já se note preocupação em afastar-se dos modelos portugueses e uma busca de expressão nacional. Essa busca de identidade para a literatura nacional se manifesta através:                                                           
a)    do aproveitamento do indígena não mais como curiosidade, como acontecia na literatura informativa, mas como herói. Essa tendência representa a versão brasileira da apologia do homem natural, bom selvagem, proposta no Arcadismo europeu. Expressa-se principalmente na poesia épica;
b)    da incorporação da paisagem brasileira à descrição nas poesias lírica e épica;
c) da visão crítica da situação política do Brasil, principalmente na poesia satírica.

A produção literária do Arcadismo Brasileiro que tem na poesia a principal forma de expressão, permite uma divisão:

POESIA LÍRICA-  Silva Alvarenga, Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga.

POESIA ÉPICA-  Cláudio Manuel da Costa, Basílio da Gama e Santa Rita Durão.

POESIA SATÍRICA-  Tomás Antônio Gonzaga.

O Arcadismo brasileiro encerra-se oficialmente em 1836, com a publicação da obra Suspiros Poéticos e Saudades, de Gonçalves de Magalhães, que marca o início do movimento romântico.

PRINCIPAIS AUTORES E OBRAS


CLÁUDIO MANUEL DA COSTA (1729-1789)




Nasceu em Minas. Estudou Direito em Coimbra e viveu em Lisboa, onde entrou em contato com as novidades árcades.
Retornando ao Brasil, participou da Inconfidência Mineira. Preso por participar da Inconfidência Mineira, enforcou-se na prisão.
            Mantém temas barrocos: conflitos entre o tempo e a eternidade, entre a carne e o espírito, transitoriedade do amor, inconsistência dos sentimentos... numa forma neoclássica, que ele tenta tornar simples e despojada. O poeta balança também entre Portugal e Brasil. Lá fez seus estudos e passou sua juventude, ficando muito afeiçoado aos usos e costumes do povo português, nem com isso, se encantou menos com a paisagem e com os valores de sua terra.  Seu pseudônimo árcade é GLUCESTE SATÚRNIO, sendo NISE sua musa-pastora.  Introduziu o Arcadismo no Brasil com seu livro Obras Poéticas em 1768. É o melhor sonetista da época colonial.

OBRAS
O poema épico VILA RICA e OBRAS POÉTICAS.
O poema Vila Rica narra a fundação e a história da cidade, exaltando a aventura dos bandeirantes.
Seus sonetos são ricos em musicalidade, como este em que revê a paisagem de sua infância transformada pelo progresso:

                        SONETO VII
Onde estou? Este sítio desconheço:
Quem fez tão diferente aquele prado?
Tudo outra natureza tem tomado;    
E em contemplá-lo tímido esmoreço

Uma fonte aqui houve; eu não esqueço
De estar a ela reclinado:       
Ali em vale um monte está mudado:
Quanto pode dos anos o progresso!

Árvores aqui vi tão florescente,
Que faziam perpétua a primavera:
Nem troncos vejo agora decadentes.

Eu me engano: a região esta não era:
Mas que venho estranhar, se estão presentes
Meus males, com que tudo degenera (Cláudio Manuel da Costa)

TOMÁS ANTÔNIO GONZAGA (1744-1810) 


Nasceu no Porto (Portugal), em 1744.
Filho de pai brasileiro e mãe portuguesa, veio ao Brasil com oito anos. Estudou com os jesuítas, na Bahia, e, posteriormente, foi para Coimbra cursar Direito. Exerceu a magistratura em Beja. De volta ao Brasil em 1782, foi nomeado ouvidor de Vila Rica. Participou da vida intelectual dessa comunidade e apaixonou-se por Maria Dorotéia Joaquina de Seixas (Marília), a quem escreveu suas liras. Preso por ter participado da Inconfidência Mineira, em 1792 é condenado a dez anos de desterro em Moçambique. Lá esqueceu seus amores e seus versos. Dedicou-se à advocacia  e morreu.
Poeta tipicamente arcádico, Gonzaga popularizou-se através da obra MARÍLIA DE DIRCEU, onde nos mostra a paixão de um pastor (ele próprio) por  Marília.
Seu nome árcade é DIRCEU. MARÍLIA é sua musa-pastora. Estilo simples, poesia espontânea, precisão vocabular, contenção e ritmo, eis as características da obra de Tomás Gonzaga.
É considerado o melhor poeta do Arcadismo brasileiro. Obras:

POESIA LÍRICA: MARÍLIA DE DIRCEU

Em Marília de Dirceu, obra composta de liras (composição poética em que se repete, a cada estrofe, um estribilho), o poeta  nos mostra a paixão de um pastor (ele próprio) por  Marília. Na primeira parte das liras, o amor é visto sob a perspectiva de uma realização completa. A segunda parte reflete os sofrimentos da prisão e resume-se ao relato da saudade entremeado por reflexões sobre justiça, humanidade e destino.

Da primeira parte das liras transcrevemos o trecho seguinte:

LIRA XXI
Não sei, Marília, que tenho      
Depois que vi o teu rosto;                        
Pois quando não é Marília
Já não posso ver com gosto.

Noutra idade me alegrava,
Até quando conversava
Com o mais rude vaqueiro:    
Hoje, ó bela, me aborrece
Inda o trato lisonjeiro
Do mais discreto pastor.
Que efeitos são os que sinto!      
Serão efeitos de amor?

Saio da minha cabana
Sem reparar no que faço;
Busco o sítio onde moras,
Suspendo defronte o passo.        

Fito os olhos na janela
Aonde, Marília bela,
Tu chegas ao fim do dia; 
Se alguém passa, e te saúda,     
Bem que seja cortesia,
Se acende na face a cor.
Que efeitos são os que sinto!      
Serão efeitos de amor?

Se estou, Marília, contigo,       
Não tenho um leve cuidado;        
Nem me lembras se são horas
De levar à fonte o gado.

Se vivo de ti distante,
Ao minuto, ao breve instante,
Finge um dia o meu desgosto:
Jamais, Pastora, te vejo
Que em seu semblante composto
Não seja graça maior.
Que efeitos são os que sinto!
Serão efeitos de amor?

Ando já com o juízo,
Marília, tão perturbado.
Que no mesmo aberto sulco      
Meto de novo o arado.

Aqui no centeio pego
Noutra parte em vão o sego:
Se alguém comigo conversa,
Ou não respondo, ou respondo
Noutra coisa tão diversa
Que nexo não tem menor.
Que efeitos são os que sinto!
Serão efeitos de amor?
.....................................

POESIA SATÍRICA: CARTAS CHILENAS

Nas Cartas Chilenas, poemas satíricos que percorrem a Vila Rica antes da Inconfidência, em forma manuscrita e anônima, o poeta critica o governador de Minas, Luís da Cunha Meneses, que aparece no texto como o fanfarão Minésio.
As cartas são escritas por Critilo (o próprio Gonzaga) e dirigidas a Doroteu (supostamente, Cláudio Manuel da Costa). Critilo, morador de Santiago do Chile (Vila Rica), faz a crítica dos desmandos do governador chileno (na verdade, Cunha Meneses). Não se deve imaginar que as cartas sejam um ataque ao regime frontal português. Nelas, Gonzaga satiriza pessoas e não instituições. Leiam um pequeno trecho da obra:

CARTAS CHILENAS (fragmento)

Passam, prezado amigo, de quinhentos
Os presos que se ajuntam na cadeia.
Uns dormem encolhidos sobre a terra,
Mal cobertos dos trapos, que molharam
De dia, no trabalho. Os outros ficam
Ainda mal sentados, e descansam
As pesadas cabeças sobre os braços,
Em cima dos joelhos encruzados.
O calor da estação e os maus vapores
Que tantos corpos lançam, mui bem podem

Emprestar, Doroteu, extensos ares.
A pálida doença aqui bafeja,
Batendo brandamente as negras asas.
Aquele, Doroteu, a quem penetra
Este hálito mortal, as foças perde,
Tem dores de cabeça e, num instante,
Abrasa-se em calor, de frio treme.


SILVA ALVARENGA (1749-1814)

Sua obra mais importante é GLAURA, pseudônimo de sua musa. Pseudônimo árcade: ALCINDO PALMIRENO. A incorporação da paisagem brasileira é uma das características da obra de Alvarenga. Confira pelos fragmentos:

1. Carinhosa e doce, ó Glaura,
Vem esta aura lisonjeira;
E a Mangueira já florida
Nos convida a respirar.

2. Mas que soberbo carro se apresenta
Tigres e antas, fortíssima amazona
Rege do alto lugar em que se assenta.
Prostrado aos pés da intrépida matrona,
Verde, escamoso jacaré se humilha,
Anfíbio habitador da ardente zona.

 
 
JOSÉ BASÍLIO DA GAMA   (1741-1795)




Nasceu em Minas Gerais. Estudou em Portugal e esteve na Itália, onde ingressou na Árcádia Romana com o pseudônimo de TERMINDO SIPÍLIO. Volta ao Brasil e novamente a Portugal, onde foi preso, acusado de estar ligado à Companhia de Jesus. Condenado ao degredo em Angola, consegue comutação da pena graças a um epitalâmio (canto ou poema nupcial) que escreveu a filha do Marquês de Pombal, por ocasião de seu casamento. Após esse fato, é nomeado oficial da secretaria do Reino, mantendo-se sempre fiel ao marquês.


Protegido por Pombal e a ele agradecido, escreveu o poema épico O URAGUAI num tom forçosamente antijesuítico. Sua obra mais importante é o poema épico O Uraguai, que narra as lutas dos índios dos Sete Povos das Missões do Uruguai contra o exército espanhol que vinha executar o Tratado de Madrid (1750), o qual transferia aos portugueses essas missões e aos espanhóis a Colônia do Sacramento. Os Sete Povos eram dos índios, dirigidos por jesuítas. Unidos, organizaram a resistência ao exército luso da chamada Guerra Guaranítica. A narrativa é entremeada por visões de Lindóia: grandes feitos de Pombal reconstruindo Lisboa destruída por um terremoto e expulsando do reino os jesuítas. Esse é o assunto que constitui o corpo do poema. Embora o tema fosse um capítulo da longa resistência indígena em nosso território, ele foi explorado com objetivo laudatório (que encerra louvor) e político. Culpando os jesuítas por incitar os índios à guerra, ele se punha do lado dos colonizadores. Tem, contudo, momentos brilhantes, descrevendo o índio como grande guerreiro e apresentando nossa exuberante paisagem.


A obra escrita em versos brancos, em cinco cantos, tem como personagens mais importantes: Gomes Freire de Andrade, comissário real português; Cepé, Tatu-Guaçu, Lindóia, indígenas; Belda, jesuíta.


O trecho transcrito a seguir mostra a morte de Lindóia. Por amor ao índio Cacambo, seu companheiro assassinado pelos inimigos, Lindóia deixa-se picar por uma serpente e morre.


O URAGUAI (fragmento)
A MORTE DE LINDÓIA


(...) na mais remota, e interna
Parte do antigo bosque, escuro e negro,
Onde ao pé de uma lapa cavernosa
Cobre uma rouca fonte que murmura,
Curva latada de jasmins, e rosas.
Este lugar delicioso, e triste,
Cansada de viver tinha escolhido
Para morrer a mísera Lindóia.
Já reclinada, como que dormia,
Na branda relva e nas mimosas flores,
Tinha a face na mão, e a mão no tronco
De um fúnebre cipreste, que espelhava
Melancólica sombra. Mais de perto
Descobrem que se enrola no seu corpo
Verde serpente, e lhe passeia, e cinge
Pescoço, e braços, e lhe lambe o seio.
Fogem de ver assim, sobressaltados,
E param cheios de temor ao longe;
E nem se atrevem a chamá-la e temem
Que desperte assustada, e irrite o monstro,
E fuja, e apresse no fugir a morte.
Porém o destro Caitutu, que treme
Do perigo da irmã, sem mais demora
Dobrou as pontas do arco, e quis três vezes
Soltar o tiro, e vacilou três vezes
Entre a ira, e o temor. Enfim sacode
O arco e faz voar a aguda seta,
Que toca o peito de Lindóia e fere
A serpente na testa, e a boca e os dentes
Deixou cravados no vizinho tronco.
Açoita o campo coa ligeira cauda
O irado monstro, e em tortuosos giros
Se enrosca no cipreste, e verte envolto
Em negro sangue o lívido veneno.
Leva nos braços a infeliz Lindóia
O desgraçado irmão, que ao despertá-la
Conhece, com que dor! no frio rosto
Os sinais do veneno, e vê ferido
Pelo dente sutil o brando peito.
Os olhos, em que Amor reinava, um dia
Cheios de morte; e muda aquela língua,
Que ao surdo vento, e aos ecos tantas vezes
Contou a larga história de seus males.
Nos olhos Caitutu não sofre o pranto,
E rompe em profundíssimos suspiros,
Lendo na testa da fronteira gruta
De sua mão já trêmula gravado
O alheio crime e a voluntária morte.
E por todas as partes repetido
O suspirado nome de Cacambo.
Inda conserva o pálido semblante
Um não sei que de magoado, e triste,
Que os corações mais duros enternece.
Tanto era bela no seu rosto a morte!


A descrição de elementos da cultura indígena e do espírito guerreiro do nativo brasileiro contribui para a crescente fixação do caráter nacional de nossa literatura. A visão heróica de índio é um traço de sentimento nativista.


FREI JOSÉ DE SANTA RITA DURÃO (1722-1784)



Natural de Minas Gerais, foi para um seminário na Europa, se ordenou padre e nunca mais voltou ao Brasil. Sua obra mais importante é o poema épico CARAMURU (Filho do Trovão). Em conseqüência da aceitação, queima o restante de sua obra ainda inédita. Imita Camões na forma. Substitui o maravilhoso mitológico pelos milagres cristãos. O poema capta nossa história desde a lenda do naufrágio de Diogo Álvares Correia, chamado pelos índios de Caramuru, até a chegada de Tomé de Souza à Bahia. Na obra, o poeta aborda também os costumes e tradições do índio brasileiro, considerando-o inferior ao homem branco. Esse naufrágio e o socorro prestado pelos nativos levaram muitas índias a se sentirem apaixonadas por Diogo. Ele se apaixonou por Paraguaçu e dela ficou noivo. Ao viajar de navio para a Europa com Paraguaçu, desconsoladas, muitas índias perseguem a nado a embarcação. Moema a mais apaixonada, é focalizada pelo poeta com destaque. Sua luta, suas mensagens e sua morte constituem os versos mais lindos do poema, assim como ocorrera com Inês de Castro em Os Lusíadas e com Lindóia em O Uraguai.


CARAMURU (fragmento)
MORTE DE MOEMA

É fama então que a multidão formosa
Das damas que Diogo pretendiam,
Vendo avançar-se a nau na via undosa,
E que a esperança de alcançar perdiam,
Entre as ondas com ânsia furiosa
Nadando o esposo pelo mar seguiam
E nem tanta água que flutuava vaga,
O ardor que o peito tem, banhando apaga.
Copiosa multidão da nau francesa
Corre a ver o espetáculo assombrada;
E ignorando a ocasião da estranha empresa,
Pasma da turba feminil, que nada.
Uma que às mais procede em gentileza,
Não vinha menos bela, do que irada;
Era Moema, que de inveja geme,
E já vizinha à nau se apega ao leme.
"Bárbaro (a bela diz): tigre e não homem...
Porém o tigre, por cruel que brame,
Acha forças, amor, que enfim o domem;
Só a ti não domou, por mais que eu te ame.
Fúrias, raios, coriscos, que o ar consomem,
Como não consumis aquele infame?
Mas pagar tanto amor com tédio e asco...
Ah! que corisco és tu... raio... penhasco
Bem puderas, cruel, ter sido esquivo,
Quando eu a fé rendia ao teu engano;
Nem me ofenderas a escutar-me altivo,
Que é favor, dado a tempo, um desengano.
Porém, deixando o coração cativo,
Com fazer-te a meus rogos sempre humanos,
Fugiste-me, traidor, e desta sorte
Paga meu fino amor tão crua morte?
Tão dura ingratidão menos sentira
E esse fado cruel doce me fora,
Se o meu despeito triunfar não vira
Essa indigna, essa infame, essa traidora.
Por serva, por escrava, te seguira.
Se não temera de chamar senhora
A vil Paraguaçu, que, sem que o creia,
Sobre ser-me inferior, é néscia e feia.
Enfim, tens coração de ver-me aflita,
Flutuar, moribunda, entre estas ondas;
Nem o passado amor teu peito incita
A um ai somente, com que aos meus respondas,
Bárbaro, se esta fé teu peito irrita,
(Disse, vendo-o fugir) ah! não te escondas!
Dispara sobre mim teu cruel raio...
E indo a dizer o mais, cai num desmaio.
Perde o lume dos olhos, pasma e treme,
Pálida a cor, o aspecto moribundo;
Com mão já sem vigor, soltando o leme,

Entre as salsas escumas desce ao fundo.
Mas a onda do mar, que, irado, freme,
Tornando a aparecer desde o profundo,

-" Ah! Diogo cruel!" - disse com mágoa,
E sem mais vista ser, sorveu-se na água.

Choram na Bahia as ninfas belas,
Que nadando a Moema acompanhavam;
E vendo que sem dor navegam delas,
À branca praia com furor tornavam.
Nem pode o claro herói sem pena vê-las,
Com tantas provas, que de amor lhe davam;
Nem mais lhe lembra o nome de Moema,
Sem que amante a chore, ou grato gema
(Santa Rita Durão)

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Barroco

BARROCO




CONTEXTO HISTÓRICO

O panorama europeu do século XVII caracteriza-se pela existência de conflitos de ordem política, econômica, social e, principalmente religiosa. São fatos importantes do período:

a) o aumento da influência da burguesia, graças ao desenvolvimento mercantilista;


b) o término do ciclo das grandes navegações;

c) a Reforma protestante, liderada por Calvino e Lutero, que se solidifica na Inglaterra e Holanda, fazendo dessa última um abrigo de dissidentes do cristianismo;

d) a divisão da Igreja, como conseqüência da Contra-Reforma. Essa cisão marcou a cultura européia seiscentista, levando a Igreja católica a se organizar num movimento denominado Contra-Reforma, centralizado principalmente em Portugal e na Espanha, redutos do cristianismo medieval.

Caracteriza a Contra-reforma uma reação àquela visão antropocêntrica de mundo cristianizada no Renascentismo. A Contra-Reforma propunha uma volta ao medievalismo e irrestrita fé na autoridade da Igreja e do rei. Ocorre que o retorno ao medievalismo e a aceitação de seus valores implicaria a perda das conquistas conseguidas pelo homem renascentista. Confrontam-se, por isso duas forças opostas: o antropocentrismo renascentista (que o homem não desejava perder) e o teocentrismo medieval (que a Igreja tenta reimplantar).

Buscando uma síntese entre esses valores, o homem da época tenta conciliar razão e fé, espiritualismo e materialismo.

Dessa tentativa resulta um estado de tensão permanente, que se espalha pela maneira de pensar, pelas concepções políticas, sociais, e que, sobretudo, reflete-se na arte produzida no período.

O homem do seiscentismo vive um estado de tensão e desequilíbrio do qual tentou evadir-se pelo culto exagerado da forma, sobrecarregando a poesia de figuras como a metáfora, a antítese, a hipérbole e a alegoria. Todo o rebuscamento que aflora na arte é reflexo do dilema, do conflito entre o terreno e o celestial, o homem e Deus, o pecado e o perdão, a religiosidade medieval e o paganismo renascentista, o material e o espiritual, que tanto atormenta o homem do século XVII.

Ao novo estilo que expressa tal estado de coisas dá-se o nome de BARROCO.



MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS

Desenvolvendo-se paralelamente à Contra-Reforma religiosa, a cuja ideologia está vinculado, o Barroco originou-se nas artes plásticas, difundindo-se posteriormente nas demais formas de expressão. É importante observar que o Barroco não apresenta características homogêneas em toda a Europa, ocorrendo variações à medida que se passa de uma região para a outra.


Na tentativa de impressionar os sentidos do receptor - baseando-se no princípio de que a fé deveria ser atingida através das emoções e dos sentidos e não só através do raciocínio - , a arte barroca procura provocar surpresa e deslumbramento e maravilhar o público através de recursos como:

a) assimetria, que se revela num estilo retorcido, monumental, em lugar da unidade geométrica e do equilíbrio renascentistas;



b) ênfase nos efeitos de luz e sombra, tanto na arquitetura quanto na pintura, aumentando a sensação de profundidade dos objetos;



Caravaggio
 

As meninas - Velasquez
 c) escolha de cenas no seu momento de maior intensidade dramática.


Cruxificação de São Pedro
 

Na LITERATURA, os recursos utilizados pelos escritores do período barroco equivalem aos empregados pelos artistas plásticos. É bom lembrar que tais recursos não são simplesmente decorativos, mas surgiram como decorrência de todo um contexto histórico-filosófico.

São comuns nos textos barrocos as seguintes ocorrências:



1- Conhecimento da realidade através dos sentidos

Decorre daí o emprego freqüente de palavras que designam cores, perfumes, e sensações táteis. No conjunto, essas palavras organizam-se para refletir a desarmonia do mundo barroco, se comparado com a harmonia da época renascentista:

Fermoso tejo meu, quão diferente   (fermoso= formoso)
Te vejo e te vi, me vês agora e me viste:
Turvo te vejo a ti, tu a mim triste
Claro te vi eu já, tu a mim contente.    (Francisco Rodrigues Lobo)


Se quer matar de sede os desfavores
Os cristais bebe com a peçonha menos,      (peçonha= veneno)
Por que não morra com mortais venenos
Se acaso gosta de vitais licores.       (Manoel Botelho de Oliveira)



A utilização de figuras de estilo é um recurso que reforça a apreensão da realidade através de sentidos. São muito comuns no texto barroco as seguintes figuras:


a) METÁFORA - que é preferida à comparação. É um dos recursos que procura traduzir, através dos sentidos, a emoção na percepção da realidade. Através dela, o poeta revela semelhanças profundas que descobre na realidade:

As aves, que eram no bosque,
Clarins de plumas animados,
Faltando-lhes a estrela alva
Suspendem tristes o canto. (Jacinto Freire de Andrade)
Observe a metáfora: aves = clarins animados de plumas

b) ANTÍTESE - reflete a contradição do homem barroco, seu dualismo, a luta de forças opostas que o arrastam:

O prazer com a pena se embaraça;    (pena: dor)
Porém quando um com outro mais porfia        (porfiar: competir, rivalizar)O gosto corre, a dor apenas passa.    (Gregório de Matos)


 c) PARADOXO - que corresponde à união de duas idéias contrárias num único pensamento. O paradoxo, por ser ilógico, opõe-se ao racionalismo da arte renascentista:


Ardor em firme coração nascido;
Pranto por belos olhos derramado;
Incêndio em mares de águas disfarçado;
Rio de neve em fogo convertido. (Gregório de Matos)


d) HIPÉRBOLE - que traduz a grandiosidade, a pompa do estilo barroco:


... porque outro mar mais copioso
Largando de meus olhos a corrente,
Lhe formará meu pranto saudoso.    (Jacinto Freire de Andrade)


e) PROSOPOPÉIA - personificação de seres inanimados, para dinamizar a realidade:
Agora que se cala o surdo vento
E o rio enternecido com meu pranto
Detém seu vagaroso movimento.     (Francisco Rodrigues Lobo)


2- Presença de grande número de palavras semelhantes quanto à sonoridade e à grafia

Foi ser Lia, sem ser feia
que me enlia e que me enleia
a liberdade e o juízo...   (Francisco Manuel de Melo)


3- Símbolos que traduzem a efemeridade, a instabilidade das coisas


A utilização desses símbolos - fumaça, vento, neve, chama, água, espuma etc. - decorre da concepção de mundo, que é visto como uma metamorfose contínua, ao contrário do imutável e estático mundo renascentista:


Entre essas ondas claras, duvidosas,
Levai ao largo mar, com turva vela,
Tristes queixumes, lágrimas queixosas...  (Francisco Rodrigues Lobo)


4- A utilização de muitas frases interrogativas


A ocorrência desse tipo de frase reflete a incerteza do homem barroco:


Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
Se tão formosa é a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?   (Gregório de Matos)


5- Emprego freqüente da ordem inversa


Além de tornar a frase mais suntuosa, por utilizar estruturas mais complicadas, a ordem inversa traduz as oscilações do raciocínio barroco, na sua tentativa de conciliar elementos opostos:
Se tão apartada do corpo a doce vida,
Domina em seu lugar a dura morte,
De que nasce tardar-me tanto a morte
Se ausente da alma estou, que me dá a vida?   (Violante do Céu)

6- Cultismo e Conceptismo


Dá-se o nome de CULTISMO ao jogo de palavras, ao emprego abusivo de palavras e à valorização da forma. Correspondente ao detalhismo que se pode observar nas artes plásticas. No fragmento a seguir, o final de cada verso repete-se no início do seguinte, o que demonstra grande preocupação com a forma:

Ofendi-vos, Meu Deus, é bem verdade,
É verdade, Senhor, que hei delinqüido,
Delinqüido vos tenho... (Gregório de Matos)


O CONCEPTISMO, que ocorre sobretudo na prosa, corresponde ao jogo de idéias, à organização da frase seguindo uma lógica rigorosa, de modo a convencer e ensinar:

Para um homem se ver a si mesmo, são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de luz. Logo, há mister luz, há mister espelho e há mister olhos. (Pe. Vieira)


A separação desses recursos em cultismo (forma) e conceptismo (conteúdo) é artificial, pois a expressão bem trabalhada (forma) é condição necessária ao efeito que se pretende conseguir com idéias engenhosas (conteúdo).


7- Principais temas barrocos
a) o sobrenatural;
b) castigo;
c) heroísmo;
d) misticismo;
e) cenas trágicas;
f) fugacidade da vida e das coisas;
g) erotismo;
h) apelo à religião;
i) arrependimento;
j) a morte, expressão máxima da efemeridade das coisas;
l) o tempo, visto como agente da morte e da dissolução das coisas;


Muitos desses temas atestam a libertação das forças do irracional e do mágico, presenças constantes na literatura barroca, sobretudo européia.


BARROCO NO BRASIL
(1601-1768)

No Brasil a influência do Barroco foi muito grande, e podemos dizer que a nossa cultura colonial é predominantemente barroca, notadamente na arquitetura e na literatura.


Em 1601 tem início o Barroco brasileiro, com a publicação do poema épico PROSOPOPÉIA, de Bento Teixeira Pinto. Nesse período, as manifestações culturais no Brasil serão reflexo de uma estrutura social, política e econômica de país-colônia.

Não se pode falar ainda em uma sociedade bem estruturada no Brasil da época. Conseqüentemente as manifestações literárias não chegam a construir um estilo de época, caracterizando-se pela diversificação. Conforme Alfredo Bosi, houve "ecos do barroco europeu" na literatura brasileira do século XVII e primeira metade do século XVIII.


O termo barroco denomina genericamente todas as manifestações artísticas dos anos de 1600 e início do anos de 1700. Além da literatura, estende-se à música, pintura, escultura e arquitetura da época.

É importante assinalar ainda, no Barroco brasileiro, a existência de Academias, que foram grêmios literários e eruditos, copiados de modelos portugueses. Tiveram importância como órgão propagador do Barroco e representam o primeiro sintoma de uma preocupação humanística entre os brasileiros.

As academias mais conhecidas são:
a) Academia dos Esquecidos (1724 - Bahia)
b) Academia dos Renascidos (1759 - Bahia)
c) Academia dos Felizes (Rio de Janeiro)

Em 1768, com a publicação das OBRAS POÉTICAS de Cláudio Manuel da Costa, tem início o Arcadismo brasileiro.

CARACTERÍSTICAS

As principais características da literatura barroca que são fundamentalmente as mesmas das literaturas de Portugal e Espanha:
a) Contraste: contraposição de temas, de assuntos, de motivos e de elementos expressivos, tais como a oposição entre a vida terrena e a vida eterna, espiritualidade e materialidade, etc.;
b) Verbalismo: uso exagerado de imagens, de figuras de sintaxe, de metáforas difíceis e de floreios literários;
c) Religiosidade: repetida freqüência de assuntos envolvendo a problemática religiosa da época;
d) Sensualismo: contraposição à característica anterior; ênfase dada aos aspectos táteis, visuais, sensitivos, tanto em relação à Natureza como ao corpo humano;
e) Pessimismo: nascido da oposição frontal feita entre o corpo e a alma, entre o eu e o mundo, entre o Cristianismo e a Reforma;
f) Culto da solidão: o artista, o poeta é um ser especial, que se isola num mundo particular. Com esta característica, o Barroco está na raiz do futuro movimento romântico;
g) Transitoriedade da vida;
h) Preocupação constante com a morte, tal qual na Idade Média;
i) Gosto pelo grandioso, sangrento e espetáculo trágico;
j) Tensão emocional: o homem já não se orienta pela razão, mas sim por sentimentos e emoções violentas.


Arquitetura Barroca - Outo Preto - MG
Arquitetura Barroca - Ruínas de São Miguel - São Miguel - RS

PRINCIPAIS AUTORES E OBRAS


GREGÓRIO DE MATOS GUERRA (1633-1696)

Iniciou seus estudos no Colégio dos Jesuítas na Bahia.


Em 1652, seguiu para Coimbra, onde se formou em Direito. Voltou por dez anos ao Brasil e retornou a Portugal. É tipicamente um homem barroco. Seus poemas revelam o ser humano entre forças antagônicas: Deus e o diabo, o céu e a terra, o bem e o mal.


É o mais importante dos barrocos brasileiros. Foi apelidado de "Boca do Inferno", graças a sua irreverência ao criticar a sociedade da época. Seu soneto Triste Bahia, gravado por Caetano Veloso recentemente, demonstra a atualidade do "Boca do Inferno". Ele escreveu poesia lírica, poesia satírica e poesia religiosa.


Na poesia satírica procura satirizar o brasileiro, o administrador português, El-Rei, o clero e, numa postura moralista, os costumes da sociedade baiana do século XVII. Na poesia lírica e religiosa, deixa claro certo idealismo renascentista, colocado ao lado do conflito entre o pecado e o perdão, buscando a pureza da fé, mas tendo ao mesmo tempo necessidade de viver a vida mundana. São essas contradições que o situam perfeitamente na escola barroca.


Em vida, Gregório de Matos nada publicou. Sua obra permaneceu inédita até o século XX, quando a Academia Brasileira de Letras, entre 1923 e 1933, publicou seis volumes, assim distribuídos: I- Poesia Sacra; II- Poesia Lírica; III- Poesia Graciosa; IV e V- Poesia Satírica e VI Últimas.


POESIA LÍRICA


À MESMA D. ÂNGELA

Anjo no nome, Angélica na cara!
Isso é ser flor, e Anjo juntamente:
Ser Angélica flor e Anjo florente,
Em quem, senão em vós, se uniformara:


Quem vira uma tal flor, que a não cortara,
De verde pé, da rama florescente;
E quem um Anjo vira tão reluzente;
Que por seu Deus o não idolatrara?


Se pois como Anjo sois dos meus altares,
Fôreis o meu Custódio, e a minha guarda
Livrara eu de diabólicos azares.


Mas vejo, que por bela e por galharda,
Posto que os Anjos nunca dão pesares
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.


(Ângela foi a inspiradora de famosos sonetos de Gregório de Matos. Apesar de toda a sua luta, seu amor não foi correspondido)
Florente: florido
Uniformar: tomar uma única forma
Vira: veria
Cortara: cortaria
Luzente: brilhante
Custódio: protetor
Galharda: elegante, garbosa

POESIA RELIGIOSA



A JESUS CRISTO NOSSO SENHOR
Pequei, Senhor: mas não porque hei pecado,
da vossa Alta Piedade me despido:
Antes, quanto mais tenho delinqüido,
vos tenho a perdoar mais empenhado.

Se basta a vos irar tanto pecado,
a abrandar-vos sobeja um só gemido:
que a mesma culpa, que vos há ofendido,
vos tem para o perdão lisonjeado.

Se uma Ovelha perdida, já cobrada,
glória tal e prazer tão repentino
vos deu, como afirmais na Sacra História:

Eu sou, Senhor, Ovelha desgarrada;
cobrai-a; e não queirais, Pastor Divino
perder na vossa Ovelha a vossa glória.

hei: tivesse
despido: despeço
delinqüir: cometer falta
sobejar: bastar
lisonjeado: elogiado
ovelha: na Bíblia simboliza o filho de Deus
cobrar; recuperar


POESIA SATÍRICA

............................................
Que os brasileiros são Bestas;
e estão sempre a trabalhar
toda a vida por manter
Maganos de Portugal.


Como se vir homem rico,
tenha cuidado em guardar;
que aqui honram os Mofinos,
e mofam os Liberais


No Brasil a Fidalguia
no bom sangue nunca está;
nem no bom procedimento:
Pois logo em que pode estar?


Consiste em dá-lo a Maganos,
que o saibam lisonjear,
dizendo que é Descendente
da Casa da Vila Real.


Consiste em muito dinheiro,
e consiste em o guardar:
Cada um o guarde bem,
para ter que gastar mal.


Se guardar o seu dinheiro,
onde quiser casará;
que os Sogros não querem homens;
querem caixas de guardar.

OUTROS TEXTOS DE GREGÓRIO DE MATOS:


À CIDADE DA BAHIA
Triste Bahia! Ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.


A ti trocou-te a máquina mercante
Que em tua larga barra tem entrado
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.


Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.


Oh se quisera Deus, que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fôra de algodão o teu capote!
SONETO VI
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.


Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a Luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?


Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.


Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.



A uma freira que satirizando a delgada fisionomia do poeta lhe chamou "Pica-Flor".

PICA-FLOR

Se Pica-Flor me chamais,
Pica-Flor aceito ser,
Mas resta agora saber,
Se no nome que me dais,
Metei a flor que guardais
No passarinho melhor!
Se me dais este favor,
Sendo só de mim o Pica,
E o mais vosso, claro fica,
Que fico então Pica-Flor.



PADRE ANTÔNIO VIEIRA
(1608-1697)


Nasceu em Lisboa, em 1608, e morreu em Salvador (BA) em 1697. Chegou ao Brasil com menos de sete anos de idade.

Com os jesuítas, tirou o grau de Mestre em Artes e entrou como noviço na Companhia de Jesus em 1623.

Dez anos depois fazia estréia no púlpito na Igreja da Conceição.

Foi um extraordinário orador, dotado de inteligência, raciocínio e linguagem ímpar.

Notabilizou-se como pregador e pelos sermões dominicais e outros.

Sua obra foi sempre contestada, porque defendia os mais fracos contra o poder dos mais fortes. Em 1667, chegou a ser cassado pelo Santo Ofício, que o libertou no ano seguinte. Brilhou em Roma, na Suécia, em Lisboa.

Depois de ser confidente de reis e papas, morreu com a pobreza e a simplicidade de um místico.

"Sermões", sua obra-prima, contém cerca de duzentas peças oratórias, que encantavam tanto a gente inculta do Brasil como os sábios e prelados de Roma.

É estudado pelos críticos nas duas literaturas: a brasileira e a portuguesa. A obra de Vieira compreende:
a) Obras de profecia: História do Futuro e Esperanças de Portugal

b) Oratória: Sermões (15 volumes). Os mais famosos sermões de Vieira são:

- Sermão da Sexagésima (tem por assunto a arte de pregar)

- Sermão pelo bom sucesso da Armas de Portugal contra as de Holanda (contra a invasão holandesa do Brasil, em 1640)

- Sermão de Santo Antônio, também conhecido como Sermão aos peixes (aborda a questão do indígena civilizado)

SERMÃO PELO BOM SUCESSO DAS ARMAS DE PORTUGAL CONTRA AS DE HOLANDA (fragmento)

Se este devia ser o fim de nossas navegações, se estas fortunas nos esperavam nas terras conquistadas: prouvera a vossa Divina Majestade que nunca saíramos de Portugal, nem fiáramos nossas vidas às ondas e aos ventos, nem conhecêramos ou puséramos os pés em terras estranhas! Ganhá-las para as não lograr, desgraça foi e não ventura; possuí-las para as perder, castigo foi de vossa ira, Senhor, e não mercê, nem favor de vossa liberdade. Se determináveis dar estas mesmas terras aos piratas de Holanda, por que lhas não deste enquanto eram agrestes e incultas, senão agora? Tantos serviços vos tem feito esta gente pervertida e apóstata, que nos mandastes primeiro cá por seus aposentadores, para lhe lavrarmos as terras, para lhe edificarmos as cidades, e depois de cultivadas e enriquecidas lhas entregardes? Assim se hão de lograr os Hereges e inimigos da Fé, dos trabalhos dos portugueses e dos suores católicos? Eis aqui para quem trabalhamos há tantos anos!

Mas pois vós, Senhor, o quereis e ordenais assim, fazei o que fordes servido. Entregai aos Holandeses o Brasil, entregai-lhes as Índias, entregai-lhes as Espanhas (que não são menos perigosas as conseqüências do Brasil perdido), entregai-lhes quanto temos e possuímos (como já lhes entregastes tanta parte), ponde em suas mãos o Mundo; e a nós, aos portugueses e espanhóis, deixai-nos, repudiai-nos, desfazei-nos, acabai-nos. Mas só digo e lembro a Vossa Majestade, Senhor, que estes mesmos que agora desfavorecidos e lançai de vós, pode ser que os queirais algum dia, e que os não tenhais. (Vieira dirige sua fala a Deus, diante da injustiça de estar o Brasil, conquista de Portugal, sob o domínio da Holanda. A fala de Vieira com deus é única - Deus tira dos portugueses católicos uma terra que eles civilizaram para deixá-las nas mãos dos holandeses não católicos. Esta idéia-chave é retomada gongoricamente num sermão que dura mais de 1 hora!)

 
BENTO TEIXEIRA PINTO  (1561-1618)

Sua obra mais importante é a tentativa de poema épico Prosopopéia, calcada em Os Lusíadas, é considerado pela crítica de escasso valor literário.




MANOEL BOTELHO DE OLIVEIRA (1636-1711)




Escreveu o poema Música do Parnaso.




FREI MANUEL DE SANTA MARIA ITAPARICA (1704-?)


Sua obra mais importante é Ilha de Itaparica.