quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Barroco

BARROCO




CONTEXTO HISTÓRICO

O panorama europeu do século XVII caracteriza-se pela existência de conflitos de ordem política, econômica, social e, principalmente religiosa. São fatos importantes do período:

a) o aumento da influência da burguesia, graças ao desenvolvimento mercantilista;


b) o término do ciclo das grandes navegações;

c) a Reforma protestante, liderada por Calvino e Lutero, que se solidifica na Inglaterra e Holanda, fazendo dessa última um abrigo de dissidentes do cristianismo;

d) a divisão da Igreja, como conseqüência da Contra-Reforma. Essa cisão marcou a cultura européia seiscentista, levando a Igreja católica a se organizar num movimento denominado Contra-Reforma, centralizado principalmente em Portugal e na Espanha, redutos do cristianismo medieval.

Caracteriza a Contra-reforma uma reação àquela visão antropocêntrica de mundo cristianizada no Renascentismo. A Contra-Reforma propunha uma volta ao medievalismo e irrestrita fé na autoridade da Igreja e do rei. Ocorre que o retorno ao medievalismo e a aceitação de seus valores implicaria a perda das conquistas conseguidas pelo homem renascentista. Confrontam-se, por isso duas forças opostas: o antropocentrismo renascentista (que o homem não desejava perder) e o teocentrismo medieval (que a Igreja tenta reimplantar).

Buscando uma síntese entre esses valores, o homem da época tenta conciliar razão e fé, espiritualismo e materialismo.

Dessa tentativa resulta um estado de tensão permanente, que se espalha pela maneira de pensar, pelas concepções políticas, sociais, e que, sobretudo, reflete-se na arte produzida no período.

O homem do seiscentismo vive um estado de tensão e desequilíbrio do qual tentou evadir-se pelo culto exagerado da forma, sobrecarregando a poesia de figuras como a metáfora, a antítese, a hipérbole e a alegoria. Todo o rebuscamento que aflora na arte é reflexo do dilema, do conflito entre o terreno e o celestial, o homem e Deus, o pecado e o perdão, a religiosidade medieval e o paganismo renascentista, o material e o espiritual, que tanto atormenta o homem do século XVII.

Ao novo estilo que expressa tal estado de coisas dá-se o nome de BARROCO.



MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS

Desenvolvendo-se paralelamente à Contra-Reforma religiosa, a cuja ideologia está vinculado, o Barroco originou-se nas artes plásticas, difundindo-se posteriormente nas demais formas de expressão. É importante observar que o Barroco não apresenta características homogêneas em toda a Europa, ocorrendo variações à medida que se passa de uma região para a outra.


Na tentativa de impressionar os sentidos do receptor - baseando-se no princípio de que a fé deveria ser atingida através das emoções e dos sentidos e não só através do raciocínio - , a arte barroca procura provocar surpresa e deslumbramento e maravilhar o público através de recursos como:

a) assimetria, que se revela num estilo retorcido, monumental, em lugar da unidade geométrica e do equilíbrio renascentistas;



b) ênfase nos efeitos de luz e sombra, tanto na arquitetura quanto na pintura, aumentando a sensação de profundidade dos objetos;



Caravaggio
 

As meninas - Velasquez
 c) escolha de cenas no seu momento de maior intensidade dramática.


Cruxificação de São Pedro
 

Na LITERATURA, os recursos utilizados pelos escritores do período barroco equivalem aos empregados pelos artistas plásticos. É bom lembrar que tais recursos não são simplesmente decorativos, mas surgiram como decorrência de todo um contexto histórico-filosófico.

São comuns nos textos barrocos as seguintes ocorrências:



1- Conhecimento da realidade através dos sentidos

Decorre daí o emprego freqüente de palavras que designam cores, perfumes, e sensações táteis. No conjunto, essas palavras organizam-se para refletir a desarmonia do mundo barroco, se comparado com a harmonia da época renascentista:

Fermoso tejo meu, quão diferente   (fermoso= formoso)
Te vejo e te vi, me vês agora e me viste:
Turvo te vejo a ti, tu a mim triste
Claro te vi eu já, tu a mim contente.    (Francisco Rodrigues Lobo)


Se quer matar de sede os desfavores
Os cristais bebe com a peçonha menos,      (peçonha= veneno)
Por que não morra com mortais venenos
Se acaso gosta de vitais licores.       (Manoel Botelho de Oliveira)



A utilização de figuras de estilo é um recurso que reforça a apreensão da realidade através de sentidos. São muito comuns no texto barroco as seguintes figuras:


a) METÁFORA - que é preferida à comparação. É um dos recursos que procura traduzir, através dos sentidos, a emoção na percepção da realidade. Através dela, o poeta revela semelhanças profundas que descobre na realidade:

As aves, que eram no bosque,
Clarins de plumas animados,
Faltando-lhes a estrela alva
Suspendem tristes o canto. (Jacinto Freire de Andrade)
Observe a metáfora: aves = clarins animados de plumas

b) ANTÍTESE - reflete a contradição do homem barroco, seu dualismo, a luta de forças opostas que o arrastam:

O prazer com a pena se embaraça;    (pena: dor)
Porém quando um com outro mais porfia        (porfiar: competir, rivalizar)O gosto corre, a dor apenas passa.    (Gregório de Matos)


 c) PARADOXO - que corresponde à união de duas idéias contrárias num único pensamento. O paradoxo, por ser ilógico, opõe-se ao racionalismo da arte renascentista:


Ardor em firme coração nascido;
Pranto por belos olhos derramado;
Incêndio em mares de águas disfarçado;
Rio de neve em fogo convertido. (Gregório de Matos)


d) HIPÉRBOLE - que traduz a grandiosidade, a pompa do estilo barroco:


... porque outro mar mais copioso
Largando de meus olhos a corrente,
Lhe formará meu pranto saudoso.    (Jacinto Freire de Andrade)


e) PROSOPOPÉIA - personificação de seres inanimados, para dinamizar a realidade:
Agora que se cala o surdo vento
E o rio enternecido com meu pranto
Detém seu vagaroso movimento.     (Francisco Rodrigues Lobo)


2- Presença de grande número de palavras semelhantes quanto à sonoridade e à grafia

Foi ser Lia, sem ser feia
que me enlia e que me enleia
a liberdade e o juízo...   (Francisco Manuel de Melo)


3- Símbolos que traduzem a efemeridade, a instabilidade das coisas


A utilização desses símbolos - fumaça, vento, neve, chama, água, espuma etc. - decorre da concepção de mundo, que é visto como uma metamorfose contínua, ao contrário do imutável e estático mundo renascentista:


Entre essas ondas claras, duvidosas,
Levai ao largo mar, com turva vela,
Tristes queixumes, lágrimas queixosas...  (Francisco Rodrigues Lobo)


4- A utilização de muitas frases interrogativas


A ocorrência desse tipo de frase reflete a incerteza do homem barroco:


Porém, se acaba o Sol, por que nascia?
Se tão formosa é a Luz, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?   (Gregório de Matos)


5- Emprego freqüente da ordem inversa


Além de tornar a frase mais suntuosa, por utilizar estruturas mais complicadas, a ordem inversa traduz as oscilações do raciocínio barroco, na sua tentativa de conciliar elementos opostos:
Se tão apartada do corpo a doce vida,
Domina em seu lugar a dura morte,
De que nasce tardar-me tanto a morte
Se ausente da alma estou, que me dá a vida?   (Violante do Céu)

6- Cultismo e Conceptismo


Dá-se o nome de CULTISMO ao jogo de palavras, ao emprego abusivo de palavras e à valorização da forma. Correspondente ao detalhismo que se pode observar nas artes plásticas. No fragmento a seguir, o final de cada verso repete-se no início do seguinte, o que demonstra grande preocupação com a forma:

Ofendi-vos, Meu Deus, é bem verdade,
É verdade, Senhor, que hei delinqüido,
Delinqüido vos tenho... (Gregório de Matos)


O CONCEPTISMO, que ocorre sobretudo na prosa, corresponde ao jogo de idéias, à organização da frase seguindo uma lógica rigorosa, de modo a convencer e ensinar:

Para um homem se ver a si mesmo, são necessárias três coisas: olhos, espelho e luz. Se tem espelho e é cego, não se pode ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos, e é de noite, não se pode ver por falta de luz. Logo, há mister luz, há mister espelho e há mister olhos. (Pe. Vieira)


A separação desses recursos em cultismo (forma) e conceptismo (conteúdo) é artificial, pois a expressão bem trabalhada (forma) é condição necessária ao efeito que se pretende conseguir com idéias engenhosas (conteúdo).


7- Principais temas barrocos
a) o sobrenatural;
b) castigo;
c) heroísmo;
d) misticismo;
e) cenas trágicas;
f) fugacidade da vida e das coisas;
g) erotismo;
h) apelo à religião;
i) arrependimento;
j) a morte, expressão máxima da efemeridade das coisas;
l) o tempo, visto como agente da morte e da dissolução das coisas;


Muitos desses temas atestam a libertação das forças do irracional e do mágico, presenças constantes na literatura barroca, sobretudo européia.


BARROCO NO BRASIL
(1601-1768)

No Brasil a influência do Barroco foi muito grande, e podemos dizer que a nossa cultura colonial é predominantemente barroca, notadamente na arquitetura e na literatura.


Em 1601 tem início o Barroco brasileiro, com a publicação do poema épico PROSOPOPÉIA, de Bento Teixeira Pinto. Nesse período, as manifestações culturais no Brasil serão reflexo de uma estrutura social, política e econômica de país-colônia.

Não se pode falar ainda em uma sociedade bem estruturada no Brasil da época. Conseqüentemente as manifestações literárias não chegam a construir um estilo de época, caracterizando-se pela diversificação. Conforme Alfredo Bosi, houve "ecos do barroco europeu" na literatura brasileira do século XVII e primeira metade do século XVIII.


O termo barroco denomina genericamente todas as manifestações artísticas dos anos de 1600 e início do anos de 1700. Além da literatura, estende-se à música, pintura, escultura e arquitetura da época.

É importante assinalar ainda, no Barroco brasileiro, a existência de Academias, que foram grêmios literários e eruditos, copiados de modelos portugueses. Tiveram importância como órgão propagador do Barroco e representam o primeiro sintoma de uma preocupação humanística entre os brasileiros.

As academias mais conhecidas são:
a) Academia dos Esquecidos (1724 - Bahia)
b) Academia dos Renascidos (1759 - Bahia)
c) Academia dos Felizes (Rio de Janeiro)

Em 1768, com a publicação das OBRAS POÉTICAS de Cláudio Manuel da Costa, tem início o Arcadismo brasileiro.

CARACTERÍSTICAS

As principais características da literatura barroca que são fundamentalmente as mesmas das literaturas de Portugal e Espanha:
a) Contraste: contraposição de temas, de assuntos, de motivos e de elementos expressivos, tais como a oposição entre a vida terrena e a vida eterna, espiritualidade e materialidade, etc.;
b) Verbalismo: uso exagerado de imagens, de figuras de sintaxe, de metáforas difíceis e de floreios literários;
c) Religiosidade: repetida freqüência de assuntos envolvendo a problemática religiosa da época;
d) Sensualismo: contraposição à característica anterior; ênfase dada aos aspectos táteis, visuais, sensitivos, tanto em relação à Natureza como ao corpo humano;
e) Pessimismo: nascido da oposição frontal feita entre o corpo e a alma, entre o eu e o mundo, entre o Cristianismo e a Reforma;
f) Culto da solidão: o artista, o poeta é um ser especial, que se isola num mundo particular. Com esta característica, o Barroco está na raiz do futuro movimento romântico;
g) Transitoriedade da vida;
h) Preocupação constante com a morte, tal qual na Idade Média;
i) Gosto pelo grandioso, sangrento e espetáculo trágico;
j) Tensão emocional: o homem já não se orienta pela razão, mas sim por sentimentos e emoções violentas.


Arquitetura Barroca - Outo Preto - MG
Arquitetura Barroca - Ruínas de São Miguel - São Miguel - RS

PRINCIPAIS AUTORES E OBRAS


GREGÓRIO DE MATOS GUERRA (1633-1696)

Iniciou seus estudos no Colégio dos Jesuítas na Bahia.


Em 1652, seguiu para Coimbra, onde se formou em Direito. Voltou por dez anos ao Brasil e retornou a Portugal. É tipicamente um homem barroco. Seus poemas revelam o ser humano entre forças antagônicas: Deus e o diabo, o céu e a terra, o bem e o mal.


É o mais importante dos barrocos brasileiros. Foi apelidado de "Boca do Inferno", graças a sua irreverência ao criticar a sociedade da época. Seu soneto Triste Bahia, gravado por Caetano Veloso recentemente, demonstra a atualidade do "Boca do Inferno". Ele escreveu poesia lírica, poesia satírica e poesia religiosa.


Na poesia satírica procura satirizar o brasileiro, o administrador português, El-Rei, o clero e, numa postura moralista, os costumes da sociedade baiana do século XVII. Na poesia lírica e religiosa, deixa claro certo idealismo renascentista, colocado ao lado do conflito entre o pecado e o perdão, buscando a pureza da fé, mas tendo ao mesmo tempo necessidade de viver a vida mundana. São essas contradições que o situam perfeitamente na escola barroca.


Em vida, Gregório de Matos nada publicou. Sua obra permaneceu inédita até o século XX, quando a Academia Brasileira de Letras, entre 1923 e 1933, publicou seis volumes, assim distribuídos: I- Poesia Sacra; II- Poesia Lírica; III- Poesia Graciosa; IV e V- Poesia Satírica e VI Últimas.


POESIA LÍRICA


À MESMA D. ÂNGELA

Anjo no nome, Angélica na cara!
Isso é ser flor, e Anjo juntamente:
Ser Angélica flor e Anjo florente,
Em quem, senão em vós, se uniformara:


Quem vira uma tal flor, que a não cortara,
De verde pé, da rama florescente;
E quem um Anjo vira tão reluzente;
Que por seu Deus o não idolatrara?


Se pois como Anjo sois dos meus altares,
Fôreis o meu Custódio, e a minha guarda
Livrara eu de diabólicos azares.


Mas vejo, que por bela e por galharda,
Posto que os Anjos nunca dão pesares
Sois Anjo, que me tenta, e não me guarda.


(Ângela foi a inspiradora de famosos sonetos de Gregório de Matos. Apesar de toda a sua luta, seu amor não foi correspondido)
Florente: florido
Uniformar: tomar uma única forma
Vira: veria
Cortara: cortaria
Luzente: brilhante
Custódio: protetor
Galharda: elegante, garbosa

POESIA RELIGIOSA



A JESUS CRISTO NOSSO SENHOR
Pequei, Senhor: mas não porque hei pecado,
da vossa Alta Piedade me despido:
Antes, quanto mais tenho delinqüido,
vos tenho a perdoar mais empenhado.

Se basta a vos irar tanto pecado,
a abrandar-vos sobeja um só gemido:
que a mesma culpa, que vos há ofendido,
vos tem para o perdão lisonjeado.

Se uma Ovelha perdida, já cobrada,
glória tal e prazer tão repentino
vos deu, como afirmais na Sacra História:

Eu sou, Senhor, Ovelha desgarrada;
cobrai-a; e não queirais, Pastor Divino
perder na vossa Ovelha a vossa glória.

hei: tivesse
despido: despeço
delinqüir: cometer falta
sobejar: bastar
lisonjeado: elogiado
ovelha: na Bíblia simboliza o filho de Deus
cobrar; recuperar


POESIA SATÍRICA

............................................
Que os brasileiros são Bestas;
e estão sempre a trabalhar
toda a vida por manter
Maganos de Portugal.


Como se vir homem rico,
tenha cuidado em guardar;
que aqui honram os Mofinos,
e mofam os Liberais


No Brasil a Fidalguia
no bom sangue nunca está;
nem no bom procedimento:
Pois logo em que pode estar?


Consiste em dá-lo a Maganos,
que o saibam lisonjear,
dizendo que é Descendente
da Casa da Vila Real.


Consiste em muito dinheiro,
e consiste em o guardar:
Cada um o guarde bem,
para ter que gastar mal.


Se guardar o seu dinheiro,
onde quiser casará;
que os Sogros não querem homens;
querem caixas de guardar.

OUTROS TEXTOS DE GREGÓRIO DE MATOS:


À CIDADE DA BAHIA
Triste Bahia! Ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.


A ti trocou-te a máquina mercante
Que em tua larga barra tem entrado
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.


Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.


Oh se quisera Deus, que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fôra de algodão o teu capote!
SONETO VI
Nasce o Sol, e não dura mais que um dia,
Depois da Luz se segue a noite escura,
Em tristes sombras morre a formosura,
Em contínuas tristezas a alegria.


Porém se acaba o Sol, por que nascia?
Se formosa a Luz é, por que não dura?
Como a beleza assim se transfigura?
Como o gosto da pena assim se fia?


Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza,
Na formosura não se dê constância,
E na alegria sinta-se tristeza.


Começa o mundo enfim pela ignorância,
E tem qualquer dos bens por natureza
A firmeza somente na inconstância.



A uma freira que satirizando a delgada fisionomia do poeta lhe chamou "Pica-Flor".

PICA-FLOR

Se Pica-Flor me chamais,
Pica-Flor aceito ser,
Mas resta agora saber,
Se no nome que me dais,
Metei a flor que guardais
No passarinho melhor!
Se me dais este favor,
Sendo só de mim o Pica,
E o mais vosso, claro fica,
Que fico então Pica-Flor.



PADRE ANTÔNIO VIEIRA
(1608-1697)


Nasceu em Lisboa, em 1608, e morreu em Salvador (BA) em 1697. Chegou ao Brasil com menos de sete anos de idade.

Com os jesuítas, tirou o grau de Mestre em Artes e entrou como noviço na Companhia de Jesus em 1623.

Dez anos depois fazia estréia no púlpito na Igreja da Conceição.

Foi um extraordinário orador, dotado de inteligência, raciocínio e linguagem ímpar.

Notabilizou-se como pregador e pelos sermões dominicais e outros.

Sua obra foi sempre contestada, porque defendia os mais fracos contra o poder dos mais fortes. Em 1667, chegou a ser cassado pelo Santo Ofício, que o libertou no ano seguinte. Brilhou em Roma, na Suécia, em Lisboa.

Depois de ser confidente de reis e papas, morreu com a pobreza e a simplicidade de um místico.

"Sermões", sua obra-prima, contém cerca de duzentas peças oratórias, que encantavam tanto a gente inculta do Brasil como os sábios e prelados de Roma.

É estudado pelos críticos nas duas literaturas: a brasileira e a portuguesa. A obra de Vieira compreende:
a) Obras de profecia: História do Futuro e Esperanças de Portugal

b) Oratória: Sermões (15 volumes). Os mais famosos sermões de Vieira são:

- Sermão da Sexagésima (tem por assunto a arte de pregar)

- Sermão pelo bom sucesso da Armas de Portugal contra as de Holanda (contra a invasão holandesa do Brasil, em 1640)

- Sermão de Santo Antônio, também conhecido como Sermão aos peixes (aborda a questão do indígena civilizado)

SERMÃO PELO BOM SUCESSO DAS ARMAS DE PORTUGAL CONTRA AS DE HOLANDA (fragmento)

Se este devia ser o fim de nossas navegações, se estas fortunas nos esperavam nas terras conquistadas: prouvera a vossa Divina Majestade que nunca saíramos de Portugal, nem fiáramos nossas vidas às ondas e aos ventos, nem conhecêramos ou puséramos os pés em terras estranhas! Ganhá-las para as não lograr, desgraça foi e não ventura; possuí-las para as perder, castigo foi de vossa ira, Senhor, e não mercê, nem favor de vossa liberdade. Se determináveis dar estas mesmas terras aos piratas de Holanda, por que lhas não deste enquanto eram agrestes e incultas, senão agora? Tantos serviços vos tem feito esta gente pervertida e apóstata, que nos mandastes primeiro cá por seus aposentadores, para lhe lavrarmos as terras, para lhe edificarmos as cidades, e depois de cultivadas e enriquecidas lhas entregardes? Assim se hão de lograr os Hereges e inimigos da Fé, dos trabalhos dos portugueses e dos suores católicos? Eis aqui para quem trabalhamos há tantos anos!

Mas pois vós, Senhor, o quereis e ordenais assim, fazei o que fordes servido. Entregai aos Holandeses o Brasil, entregai-lhes as Índias, entregai-lhes as Espanhas (que não são menos perigosas as conseqüências do Brasil perdido), entregai-lhes quanto temos e possuímos (como já lhes entregastes tanta parte), ponde em suas mãos o Mundo; e a nós, aos portugueses e espanhóis, deixai-nos, repudiai-nos, desfazei-nos, acabai-nos. Mas só digo e lembro a Vossa Majestade, Senhor, que estes mesmos que agora desfavorecidos e lançai de vós, pode ser que os queirais algum dia, e que os não tenhais. (Vieira dirige sua fala a Deus, diante da injustiça de estar o Brasil, conquista de Portugal, sob o domínio da Holanda. A fala de Vieira com deus é única - Deus tira dos portugueses católicos uma terra que eles civilizaram para deixá-las nas mãos dos holandeses não católicos. Esta idéia-chave é retomada gongoricamente num sermão que dura mais de 1 hora!)

 
BENTO TEIXEIRA PINTO  (1561-1618)

Sua obra mais importante é a tentativa de poema épico Prosopopéia, calcada em Os Lusíadas, é considerado pela crítica de escasso valor literário.




MANOEL BOTELHO DE OLIVEIRA (1636-1711)




Escreveu o poema Música do Parnaso.




FREI MANUEL DE SANTA MARIA ITAPARICA (1704-?)


Sua obra mais importante é Ilha de Itaparica.














Outros trabalhos

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quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Quinhentismo

 

Erro de Português
                    Oswaldo de Andrade
Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.


 QUINHENTISMO (1500 - 1601)

Quinhentismo é a denominação genérica de todas as manifestações literárias ocorridas no Brasil durante o século XVI, correspondendo à introdução da cultura européia em terras brasileiras. Não podemos falar em uma literatura do Brasil, aquela que reflete a cosmovisão do homem brasileiro, e sim, numa literatura no Brasil, ou seja, uma literatura ligada ao Brasil mas que denota a cosmovisão, as ambições e as intenções do homem europeu.

Desta forma, espelhando diretamente o momento histórico vivido pela Península Ibérica, temos uma literatura informativa e uma literatura dos jesuítas como principais manifestações literárias no século XVI.


O Quinhentismo também é conhecido como:
Literatura de Informação
Literatura de Viajantes
Literatura sobre o Brasil

LITERATURA INFORMATIVA SOBRE O BRASIL

Mesmo não tendo objetivos literários, os textos informativos são em geral bem escritos. Constituem narrativas e descrições da natureza pródiga do Brasil aos olhos do europeu. Os elogios são, em geral, exagerados em todos os relatos.

Coube a Pero Vaz de Caminha, escrivão da armada de Cabral, dar, através de sua carta, as primeiras informações a respeito da terra e de seus habitantes. Tornou-se célebre pela Carta que descrevia a nova terra a D. Manuel. Soube reconhecer a existência de uma cultura indígena original e elogiou seu asseio, sua beleza e saúde.

Apesar de ter sido um investimento de grande porte político, a descoberta da nova terra não chegou a superar a importância do comércio com as Índias. Durante os trinta primeiro anos, o Brasil, despovoado de portugueses, foi campo aberto à pirataria de outros povos, notadamente os franceses.
Em 1534, inicia-se a ocupação, com a criação das capitanias hereditárias. Em 1549, Tomé de Sousa é nomeado governador-geral da província.

Entre os que aqui aportaram nesse primeiro século da nossa história - portugueses ou não - encontravam-se aqueles que seriam os cronistas da nova terra, registrando seu perfil físico, étnico e cultural.

O conjunto desses escritos deixa transparecer o interesse pela colônia enquanto meio de abastecimento dos cofres portugueses, mas registra também o impacto da nova terra sobre o descobridor.

Segundo Alfredo Bosi, todos os textos concernentes à Literatura informativa sobre o Brasil são informações que viajantes e missionários europeus colheram sobre a natureza e o homem brasileiro. Enquanto informações, não pertencem à categoria do literário, mas à pura crônica histórica.

Considerados numa articulação mais ampla com a literatura européia, tais textos fazem parte da chamada literatura de viagens, gênero que fez muito sucesso durante o século XVI em Portugal e na Espanha principalmente, satisfazendo a curiosidade das pessoas sobre as conquistas levadas a efeito por esses dois povos, sobretudo nas Índias, na Ásia e na América.

Desse testemunho das aventuras geográficas portuguesas, no que diz respeito ao Brasil, destacam-se:
a) A Carta de Caminha (1500).
b) O Tratado da terra do Brasil e a História da Província de Santa Cruz a que vulgarmente chamam Brasil, de Pero Magalhães Gandavo (1576).
c) O Tratado descritivo do Brasil, de Gabriel Soares de Sousa (1587).

Num trecho de sua carta, Caminha solicita ao rei que envie gente para a terra descoberta, acrescentando: " ...não deixe logo de vir clérigo para os batizar..."
A Carta de Pero Vaz de Caminha informa detalhadamente o rei D. Manuel sobre o descobrimento do Brasil e os primeiros contatos com os índios.

 
A Carta de Pero Vaz de Caminha

Vídeo Aula sobre Literatura Informativa


LITERATURA DOS JESUÍTAS


Os primeiros jesuítas chegaram ao Brasil quase 50 anos depois de sua descoberta (1549). Vieram com o objetivo de catequizar os índios e ministrar o ensino público no país em conseqüência da Contra-Reforma. Fundaram os primeiros colégios, únicos centros de atividade intelectual no Brasil-Colônia. Os índios eram objetos de cuidados especiais. Os escravos africanos que aqui chegaram dez anos depois (1559) ficaram entregues à própria sorte e à exploração.

Os jesuítas foram os iniciadores da nossa literatura nascente. O padre Manoel da Nóbrega escreveu as suas primeiras cartas em 1549. Mais tarde, Anchieta, com seus trabalhos (poesias, autos, gramática), ampliou o campo literário e informativo. Naturalmente, o objetivo da Companhia de Jesus não era de fazer literatura, mas mesmo assim, suas obras escritas são o que houve de melhor durante o Quinhentismo.


José de Anchieta


O "grande piahy" (supremo pajé branco), como era chamado pelos índios, nasceu na ilha de Tenerife, Canárias, em 1534. Veio para o Brasil em 1553, logo depois de se tornar jesuíta, aos 19 anos de idade. Integrou-se perfeitamente com os nativos, a cuja conversão dedicou sua vida.

Anchieta aprendeu a língua deles e nos legou, sempre como parte de um exaustivo trabalho de catequese: a primeira gramática do tupi-guarani, verdadeira cartilha para o ensino da língua dos nativos (Arte da Gramática da Língua mais usada na Costa do Brasil). Escreveu poemas com objetivo catequético. Várias poesias, vários autos, misturando a moral religiosa católica aos costumes dos indígenas, sempre preocupado em caracterizar os extremos como o Bem e o Mal, o Anjo e o Diabo.


Foi o primeiro intelectual a atuar no país escreveu sobretudo poesias, que fizeram dele o nosso primeiro poeta. Escritas em latim, espanhol, português e tupi, apresentam grandes qualidades estilísticas, nos moldes do medievalismo, além de ter sido o primeiro e maior educador religioso europeu a catequizar os índios em sua própria terra natal, o que também lhe deu o título de Patrono dos Professores.


Faleceu no litoral do Espírito Santo, na atual cidade de Anchieta, em 1597.

Obras

Auto da Pregação Universal (1570)
Diálogo do P.e Pero Dias Martir (1571)
Na Festa de Natal ou Pregação (1577)
Na Aldeia de Guapimirim (1580)
Excerto do Auto de S. Sebastião (1584)
Auto representado na Festa de São Lourenço (1590) - resumo
Arte de Gramática da Língua Tupi (1595)
Auto da Visitação de Sta. Isabel (1597)
Cartas, Informações e Sermões (1933)
De Beata Virgine (1940)
Capitania de São Vicente (1946)
De Gestis de Men de Sá (1958)
Poesias (1959)
Obras Completas (1985)

Por ocasião da chegada de Santa Inês, escreveu o seguinte:

A SANTA INÊS


Cordeirinha linda,
como folga o povo
porque vossa vinda
lhe dá lume novo!

Cordeirinha santa,
de lesu querida,  
vossa santa vinda  
diabo espanta.

Por isso vos canta,
com prazer, o povo,
porque vossa vinda
lhe dá lume novo.

Nossa culpa escura
fugirá depressa
pois vossa cabeça
vem com luz tão pura.

Vossa formosura
honra é do povo,
porque vossa vinda
lhe dá lume novo!

Virginal cabeça
pela fé cortada,
com vossa chegada,
Já ninguém pereça.

Vinde mui depressa
ajudar o povo,
pois, com vossa vinda,
lhe dais lume novo.

O poema fala do confronto entre o bem e o mal de forma bem convincente: a chegada de Santa Inês espanta o Diabo e, graças a ela, o povo revigora a sua fé. A quarta estrofe está centrada em uma oposição, a partir da antítese ( exposição de ideias opostas) apresentada: culpa escura/ luz tão pura. A luz que ilumina o espírito espantará a culpa escura(o pecado).Essa preferência por enfatizar os extremos pode ser considerada, implicitamente, uma característica pré-barroca.  (Comentário de Nelson Souzza)