quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Quinhentismo

 

Erro de Português
                    Oswaldo de Andrade
Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.


 QUINHENTISMO (1500 - 1601)

Quinhentismo é a denominação genérica de todas as manifestações literárias ocorridas no Brasil durante o século XVI, correspondendo à introdução da cultura européia em terras brasileiras. Não podemos falar em uma literatura do Brasil, aquela que reflete a cosmovisão do homem brasileiro, e sim, numa literatura no Brasil, ou seja, uma literatura ligada ao Brasil mas que denota a cosmovisão, as ambições e as intenções do homem europeu.

Desta forma, espelhando diretamente o momento histórico vivido pela Península Ibérica, temos uma literatura informativa e uma literatura dos jesuítas como principais manifestações literárias no século XVI.


O Quinhentismo também é conhecido como:
Literatura de Informação
Literatura de Viajantes
Literatura sobre o Brasil

LITERATURA INFORMATIVA SOBRE O BRASIL

Mesmo não tendo objetivos literários, os textos informativos são em geral bem escritos. Constituem narrativas e descrições da natureza pródiga do Brasil aos olhos do europeu. Os elogios são, em geral, exagerados em todos os relatos.

Coube a Pero Vaz de Caminha, escrivão da armada de Cabral, dar, através de sua carta, as primeiras informações a respeito da terra e de seus habitantes. Tornou-se célebre pela Carta que descrevia a nova terra a D. Manuel. Soube reconhecer a existência de uma cultura indígena original e elogiou seu asseio, sua beleza e saúde.

Apesar de ter sido um investimento de grande porte político, a descoberta da nova terra não chegou a superar a importância do comércio com as Índias. Durante os trinta primeiro anos, o Brasil, despovoado de portugueses, foi campo aberto à pirataria de outros povos, notadamente os franceses.
Em 1534, inicia-se a ocupação, com a criação das capitanias hereditárias. Em 1549, Tomé de Sousa é nomeado governador-geral da província.

Entre os que aqui aportaram nesse primeiro século da nossa história - portugueses ou não - encontravam-se aqueles que seriam os cronistas da nova terra, registrando seu perfil físico, étnico e cultural.

O conjunto desses escritos deixa transparecer o interesse pela colônia enquanto meio de abastecimento dos cofres portugueses, mas registra também o impacto da nova terra sobre o descobridor.

Segundo Alfredo Bosi, todos os textos concernentes à Literatura informativa sobre o Brasil são informações que viajantes e missionários europeus colheram sobre a natureza e o homem brasileiro. Enquanto informações, não pertencem à categoria do literário, mas à pura crônica histórica.

Considerados numa articulação mais ampla com a literatura européia, tais textos fazem parte da chamada literatura de viagens, gênero que fez muito sucesso durante o século XVI em Portugal e na Espanha principalmente, satisfazendo a curiosidade das pessoas sobre as conquistas levadas a efeito por esses dois povos, sobretudo nas Índias, na Ásia e na América.

Desse testemunho das aventuras geográficas portuguesas, no que diz respeito ao Brasil, destacam-se:
a) A Carta de Caminha (1500).
b) O Tratado da terra do Brasil e a História da Província de Santa Cruz a que vulgarmente chamam Brasil, de Pero Magalhães Gandavo (1576).
c) O Tratado descritivo do Brasil, de Gabriel Soares de Sousa (1587).

Num trecho de sua carta, Caminha solicita ao rei que envie gente para a terra descoberta, acrescentando: " ...não deixe logo de vir clérigo para os batizar..."
A Carta de Pero Vaz de Caminha informa detalhadamente o rei D. Manuel sobre o descobrimento do Brasil e os primeiros contatos com os índios.

 
A Carta de Pero Vaz de Caminha

Vídeo Aula sobre Literatura Informativa


LITERATURA DOS JESUÍTAS


Os primeiros jesuítas chegaram ao Brasil quase 50 anos depois de sua descoberta (1549). Vieram com o objetivo de catequizar os índios e ministrar o ensino público no país em conseqüência da Contra-Reforma. Fundaram os primeiros colégios, únicos centros de atividade intelectual no Brasil-Colônia. Os índios eram objetos de cuidados especiais. Os escravos africanos que aqui chegaram dez anos depois (1559) ficaram entregues à própria sorte e à exploração.

Os jesuítas foram os iniciadores da nossa literatura nascente. O padre Manoel da Nóbrega escreveu as suas primeiras cartas em 1549. Mais tarde, Anchieta, com seus trabalhos (poesias, autos, gramática), ampliou o campo literário e informativo. Naturalmente, o objetivo da Companhia de Jesus não era de fazer literatura, mas mesmo assim, suas obras escritas são o que houve de melhor durante o Quinhentismo.


José de Anchieta


O "grande piahy" (supremo pajé branco), como era chamado pelos índios, nasceu na ilha de Tenerife, Canárias, em 1534. Veio para o Brasil em 1553, logo depois de se tornar jesuíta, aos 19 anos de idade. Integrou-se perfeitamente com os nativos, a cuja conversão dedicou sua vida.

Anchieta aprendeu a língua deles e nos legou, sempre como parte de um exaustivo trabalho de catequese: a primeira gramática do tupi-guarani, verdadeira cartilha para o ensino da língua dos nativos (Arte da Gramática da Língua mais usada na Costa do Brasil). Escreveu poemas com objetivo catequético. Várias poesias, vários autos, misturando a moral religiosa católica aos costumes dos indígenas, sempre preocupado em caracterizar os extremos como o Bem e o Mal, o Anjo e o Diabo.


Foi o primeiro intelectual a atuar no país escreveu sobretudo poesias, que fizeram dele o nosso primeiro poeta. Escritas em latim, espanhol, português e tupi, apresentam grandes qualidades estilísticas, nos moldes do medievalismo, além de ter sido o primeiro e maior educador religioso europeu a catequizar os índios em sua própria terra natal, o que também lhe deu o título de Patrono dos Professores.


Faleceu no litoral do Espírito Santo, na atual cidade de Anchieta, em 1597.

Obras

Auto da Pregação Universal (1570)
Diálogo do P.e Pero Dias Martir (1571)
Na Festa de Natal ou Pregação (1577)
Na Aldeia de Guapimirim (1580)
Excerto do Auto de S. Sebastião (1584)
Auto representado na Festa de São Lourenço (1590) - resumo
Arte de Gramática da Língua Tupi (1595)
Auto da Visitação de Sta. Isabel (1597)
Cartas, Informações e Sermões (1933)
De Beata Virgine (1940)
Capitania de São Vicente (1946)
De Gestis de Men de Sá (1958)
Poesias (1959)
Obras Completas (1985)

Por ocasião da chegada de Santa Inês, escreveu o seguinte:

A SANTA INÊS


Cordeirinha linda,
como folga o povo
porque vossa vinda
lhe dá lume novo!

Cordeirinha santa,
de lesu querida,  
vossa santa vinda  
diabo espanta.

Por isso vos canta,
com prazer, o povo,
porque vossa vinda
lhe dá lume novo.

Nossa culpa escura
fugirá depressa
pois vossa cabeça
vem com luz tão pura.

Vossa formosura
honra é do povo,
porque vossa vinda
lhe dá lume novo!

Virginal cabeça
pela fé cortada,
com vossa chegada,
Já ninguém pereça.

Vinde mui depressa
ajudar o povo,
pois, com vossa vinda,
lhe dais lume novo.

O poema fala do confronto entre o bem e o mal de forma bem convincente: a chegada de Santa Inês espanta o Diabo e, graças a ela, o povo revigora a sua fé. A quarta estrofe está centrada em uma oposição, a partir da antítese ( exposição de ideias opostas) apresentada: culpa escura/ luz tão pura. A luz que ilumina o espírito espantará a culpa escura(o pecado).Essa preferência por enfatizar os extremos pode ser considerada, implicitamente, uma característica pré-barroca.  (Comentário de Nelson Souzza)


Nenhum comentário:

Postar um comentário